É indiscutível que o clima natalino modifica nossos gostos e formas de agir, nos tornando mais afetivos e mostrando que pequenos momentos são de extrema importância. Estar junto de amigos e familiares, compartilhando o alimento e com o acompanhamento de bons vinhos, são prioridade na ceia natalina, que independente do prato ou rótulo escolhido o verdadeiro propósito é unir pessoas. Entretanto, vamos admitir que uma mesa farta, repleta de delícias, torna o momento mais convidativo. E se além de uma saborosa refeição conseguirmos selecionar vinhos tão bons quanto os pratos escolhidos, a experiência se tornará memorável.
Devemos considerar que a ceia de natal possui influências de diferentes culturas, então podemos concluir que a possibilidade de escolher vinhos de diversos estilos e procedências é muito interessante.
Quando nos referimos à harmonização entre vinhos e alimentos, devemos respeitar a identidade de cada produto, fazendo com que eles se complementem e cresçam juntos. As duas técnicas mais usuais de harmonização podem ser pelo contraste, ou seja, as características que o alimento apresenta são totalmente distintas as do vinho, por exemplo, vinhos adocicados com alimentos salgados. Da mesma maneira, podemos encontrar o equilíbrio perfeito entre os semelhantes, o que chamamos de harmonização por similaridade, o exemplo mais tradicional é o das bebidas doces com sobremesas.
Confira abaixo, as dicas que Lucas Simões, enólogo da Domno Importadora, traz para uma harmonização perfeita na ceia de Natal:
Bacalhau
Não há quem discorde que Natal sem bacalhau não tem o mesmo sabor. Como as tradições natalinas em solo tupiniquim têm grande influência portuguesa existem diversas receitas que exploram e comportam o inconfundível sabor deste peixe de água fria. Aqui trouxemos duas opções, sempre considerando a forma de preparo do alimento.
Bacalhau à lagareira
Com o passar do tempo, esta receita foi se modificando, sendo adaptada de acordo com a cultura de cada região. Basicamente é o bacalhau empanado, guarnecido de batatas assadas, condimentadas e regadas por muito azeite. O protagonismo com esse prato fica a cargo do Casas del Bosque Reserva Sauvignon Blanc, com sua explosiva carga aromática e fina acidez, contrabalanceando com o residual salgado do bacalhau e a acidez proporcionada pelo azeite.
Bacalhau à moda portuguesa
Uma das receitas mais saborosas, práticas e repleta de ingredientes ricos em aromas. O bacalhau assado, acompanhado de ovos cozidos, cebolas, alho, tomates, pimentões e, obviamente, azeite de forma generosa. Neste caso em específico, o sal e a gordura ficam mais evidentes, por isso um vinho com mais estrutura terá força suficiente para suportar tamanha amplitude de sabores. O Chateau Lauduc Bordeaux é um tinto de extremo equilíbrio, com um estilo mais contemporâneo, taninos moderados, além de ser frutado e muito macio. A dica de ouro é que qualquer alimento com elevada presença de sal deve ficar longe de vinhos com taninos muito reativos, então esse francês “redondinho” fará sucesso entre os convidados para a ceia.
Chester ou Peru
O prato mais clássico da ceia natalina, sempre evidenciado nas propagandas e nunca rejeitado por nenhum convidado. Harmonizar vinhos e carnes de aves pode parecer simples, mas devemos lembrar que nem todas as aves são delicadas em sabor. No caso do Chester, este apresenta muitas semelhanças com o frango, mas com maior concentração de proteínas e baixo teor de gorduras. Já o Peru, possui carne mais firme e maior intensidade de sabor. Nossa sugestão é um vinho tinto mais jovem e frutado, além da sutil presença do carvalho, como o exótico e surpreendente Namaqua Pinotage, com seu exuberante aroma remetendo à especiarias, ou mesmo um democrático vinho argentino, como o clássico Argento Malbec.
Arroz de Natal
O saboroso, e também polêmico, arroz natalino é rico em sabores e com marcante toque agridoce. Os principais ingredientes que compõem esse prato são as frutas secas, como damascos, tâmaras e uvas-passas, além das oleaginosas, onde amêndoas, castanhas e nozes abrilhantam ainda mais a tão famosa receita. A melhor opção para este prato são vinhos com delicada concentração de açúcar, acidez moderada e presença frutada. Vinhos do sul da Itália, como o 12 e Mezzo Primitivo di Manduria, originados de uma região caracterizada por conseguir uvas plenamente maduras e com grande influência do sol mediterrâneo sempre são certeiros.
Leitão ou Tender
A carne suína é reconhecida por seu sabor marcante e intenso, sendo dificilmente confundida. Adorado por muitos, o leitão compõe a ceia natalina, deixando-a mais saborosa e embelezando a mesa do jantar. Sendo uma das carnes mais versáteis quando nos referimos à harmonização, podemos equilibrá-lo com diversos estilos de vinhos, sejam eles brancos, tintos ou rosés. Considerando todos estes argumentos, a escolha mais coerente são vinhos que sejam harmoniosos em sua essência, como o Catedral Dão, composto por típicas uvas portuguesas e com acidez, taninos e álcool completamente equilibrados, demonstrando uma sinergia entre sabores que nos convida ao próximo gole.
Panetone
Após todo esse banquete natalino poderíamos parar por aqui, mas uma refeição sem sobremesa nunca está completa. Talvez o alimento mais típico, independentemente de sua versão, é o Panetone, principalmente os mais tradicionais, como os da Augusta Panettoni. Seja ele recheado com frutas cristalizadas ou mesmo chocolate, a escolha que alegrará a todos é o vinho do Porto. Nossa sugestão é o estruturado Kopke Special Reserva Tawny, como notas que remetem a baunilha e café, além da doçura na medida certa.
Fonte: famigliavalduga