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O vinho, o coronavírus e os eventos importantes da vida

O vinho, o coronavírus e os eventos importantes da vida

Para o físico italiano Carlo Roveli, autor de A ordem do Tempo, o mundo é feito de eventos, não de coisas. E ressalta seu caráter aleatório: “Os eventos do mundo não se organizam em fila como os ingleses. Eles se amontoam em caos, como os italianos”. A citação, profecia involuntária, retrata com incrível precisão os efeitos e o modus operandi da pandemia do novo coronavírus que assola o planeta. O livro foi escrito em 2016.

Nós vivemos um evento trágico. Vivemos o caos. E o vinho talvez seja, para alguns, um tema menor neste momento. Aqui no meu refúgio, e na segurança da quarentena que estes tempos terríveis nos impõem, refleti um tanto sobre a relevância de um texto sobre vinho neste momento de emergência para todos nós. A reflexão inicial recomendava o recolhimento também de posts neste blog.

Sê sábia. Bebe o vinho

Um poema de Horácio, Odes, composto no século 23 a.C., que permeia o livro de Rovelli, no entanto, iluminou uma perspectiva diferente sobre a relevância deste tema (outra coincidência com a realidade do vírus que nos afronta).

 

“Talvez Deus nos reserve muitas estações

ainda

ou talvez a última seja este

inverno

que agora nas ondas do Tirreno

leva a bater contra

os escolhos de corroídas pedras-pomes:

sê sábia. Bebe o vinho

e encerra neste breve círculo

tua longa esperança”

Trecho do poema Odes, de Horácio

 

 

 

O vinho é parte de nossas memórias

Para o neurocientista Sidarta Ribeiro, autor de O Oráculo da Noite – a História e a Ciência do Sonho, “a matéria do sonho são as memórias, ninguém sonha sem ter vivido”. O vinho já faz parte da história da humanidade, da nossa história e das nossas experiências sensoriais. O vinho é parte do cardápio de nossas memórias.

O vinho é, sim, um tema relevante. Atravessou gerações, é símbolo religioso e também festivo, ajudou a enfrentar os momentos mais críticos da humanidade e brindou aqueles mais surpreendentes e fabulosos. O vinho melhora uma refeição, melhora as pessoas. O vinho é uma das maneiras de arrefecer a alma e manter os relacionamentos mais fortes, mesmo que momentaneamente à distância, virtuais.

 

 

Se o vinho pode nos dar alento e alegrias neste momento, merece então que continuemos a escrever sobre ele, recomendar as boas garrafas, fazer elegias aos seus sabores, aromas e cores, discutir as diferentes safras, todo a palheta de uvas e regiões. Assunto não falta.

 

Buscas no Google e mensagens pessoais

Também me convenceram da importância de um assunto virtualmente menos importante alguns dados do mundo real.

As pesquisas neste blog, por exemplo, aumentaram 300% na última semana, segundo relatório da ferramenta Google Trends, que analisa o volume de buscas de termos e conteúdos criados por produtores de conteúdo. Ou seja, mais gente tem procurado informações sobre vinho neste espaço. E se ele não se atualiza, frustra a demanda dos leitores.

 

 

 

O número de mensagens pessoais de amigos e colegas buscando no vinho uma fonte de conforto e pequenos prazeres aumentou muito neste período. O volume de memes, em geral bem-humorados, em que o vinho é o tema principal também cresceu de forma exponencial (dois exemplos estão publicados neste post).

Em um momento que explicitar nas redes sociais o consumo de um produto “supérfluo e caro” pode pegar mal, a celebração migrou para um registro mais pessoal entre amigos e grupos de amigos em ferramentas ou áreas de relacionamento social mais fechadas. Não é o momento de expor em público prazeres hedonistas, mas vale brindar virtualmente com os amigos num esforço de superar este momento.

 

Comprar vinho em quarentena

Mesmo com toda poesia e digressão o vinho ainda é um negócio. E se diminuíram imagens de rótulos abertos nas redes sociais em casa, nos restaurantes momentaneamente fechados e em confrarias que tiveram de congelar seus encontros, cresceram na rede aberta mensagens de incentivo a produtores de vinho, profissionais do meio e proprietários de estabelecimentos que tiveram seus negócios afetados e em muitos casos correndo perigo.

A expectativa geral é de que o mercado vai sofrer com dois problemas simultâneos, a alta enlouquecida do dólar e a escassez de liquidez dos consumidores que vão ver sua renda diminuir. Traduzindo: a falta de grana mesmo.

 

 

Para tentar driblar pelo menos o fechamento de suas lojas (aquelas que são físicas) e oferecer alternativas para o consumidor, praticamente todas as importadoras e negócios on-line lançaram promoções em suas lojas virtuais com diferentes modelos de ofertas.

Estratégia que não é exclusiva no mercado de vinho. Estas ofertas, em tempos de divulgação e promoção em tempo real nas redes sociais e por e-mail marketing são renovadas todo o tempo. Aqui apenas exemplos de algumas delas que estavam valendo na última semana de março de 2020 (o ano que vamos querer esquecer):

Na Mistral não há cobrança de frete para todo o país (com exceção de Rondônia) e a importadora colocou vários rótulos em promoção em esquema outlet, Na World Wine promoções do tipo “leve 3 e pague 2 “ de rótulos selecionados são o destaque.

Na Grand Cru, além do frete gratuito vários cupons de ofertas de acordo com o valor da compra são a estratégia escolhida. Na Evino o câmbio foi congelado e o frete é grátis para vinhos selecionados. Na Wine o dólar está congelado a 3,80 e tem frete gratuito par compras a partir de R$ 140,00.

A Zahil oferece descontos de 15%, frete grátis para compras a partir de R$ 150,00. Na ponta de estoque da importadora Vinci há rótulos com dólar a R$ 1,79, 2,29 e 2,59. Na Decanter há uma lista de rótulos em esquema de Outlet.

A Adega Pão de Açúcar oferece uma seleção de vinhos com 40% de desconto (o site toda semana lança alguma campanha de promoções variadas).

A plataforma digital de vinhos Eniwine registrou aumento de 20% de suas vendas desde o início do confinamento Os negócios tentam e precisam reagir. Os consumidores precisam ter opções.

Precisamos continuar a falar sobre vinhos. Precisamos continuar a consumir e ter prazer com vinhos. O compartilhamento, um dos mantras dos bebedores de tintos, brancos e espumantes, terá de se adaptar. Mas ainda voltaremos a brindar com amigos, familiares e mesmo desconhecidos. A humanidade merece, nós merecemos.

 

Beth Verholeak

Fonte: vinho.ig

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