Um roteiro para conhecer um sem número de vinícolas, comer muito galeto e percorrer uma estradinha do século 19, cheia de construções de pedra e madeira.
O pórtico de entrada da cidade em forma de um barril de vinho não deixa dúvidas: Bento Gonçalves (RS) respira ares dionísicos, recebendo o título de principal região vitivinícola do país.
Dia 1: vinícolas, vinícolas e mais vinícolas
Vinho é a palavra de ordem em Bento Gonçalves e para se dar bem no seu roteiro valem algumas recomendações. Primeira: tome um desjejum reforçado e saia do hotel com o estômago bem cheio, afinal, nesse dia, você visitará um número considerável de vinícolas.
Segunda dica: como os deslocamentos serão constantes, o uso do carro é fundamental. Vale a pena visitar vinícolas, demais atrações e restaurantes com o veículo próprio ou alugar um automóvel – ter a disposição um chofer de táxi pode representar uma pequena fortuna. Porém, vale ressaltar que, se você está dirigindo, faça uso do balde disponível em todas as vinícolas.
O primeiro dia será quase todo dedicado ao Vale dos Vinhedos, uma rota próxima ao centro da cidade que representa o grosso das vinícolas da região. Gigantes do setor, como Miolo e Casa Valduga dividem espaço com as pequenas cantinas, que produzem vinhos de forma bem mais artesanal. Conversar com esses produtores deixarão seu dia bem mais rico.
A grosso modo, a visita normal a uma cantina inclui a apresentação da empresa, tour por todos os processos de produção, finalizando com a degustação de vinhos e espumantes.
E aqui cabe outra dica importante: para não voltar para o hotel trançando as pernas, peça um balde para cuspir a bebida. É o único caso em que uma cusparada não será falta de educação.
Iniciando os trabalhos, rume para a maior vinícola do Centro de Bento Gonçalves, impreterivelmente às 8h15, pois o dia será bem corrido. Fundada em 1931, a Cooperativa Vinícola Aurora é uma das maiores do setor e tem um divertido tour.
Moças vestidas a caráter conduzem os visitantes por túneis e corredores subterrâneos repletos de barricas. Só não perca muito tempo na degustação: você terá muitas vinícolas para visitar e os produtos oferecidos estão entre os mais pobres da Aurora.
Do pórtico de entrada, siga por 3 km pela RS-470, sentido Garibaldi, até o trevo de entrada do Vale dos Vinhedos. Embora não seja necessário, se preferir pare no posto de informações turísticas para pegar um mapa da rota que, basicamente consiste de duas vias principais (Estrada do Vinho e Via Trento) com suas ramificações.
Vastos e pequenos parreirais são observados a cada curva da bucólica estrada. O primeiro pit stop pode ser feito na Vallontano, uma vinícola pequena que possui um charmoso café na entrada. Eles não disponibilizam visitas à vinícola, mas é possível degustar dos produtos na loja aneza do Vallontano Risoteria e Café. Após degustar os vinhos, um expresso misturado com grappa cai como uma luva.
Colado na Vallontano, 12 tipos de queijos são encontrados na Queijaria Valbrenta. Além de acompanhar o processo de fabricação, você pode provar queijos, como o de nozes. Não saia de lá sem experimentar o salame de javali.
Em seguida, faça um desvio na Linha 8 da Graciema (uma das ramificações da estrada principal) para degustar os ótimos vinhos da Don Laurindo, que pratica uma política comum das grandes vinícolas: cobra entrada, que pode ser revertida em produtos. Se tiver bala na agulha, recheie sua adega com o Gran Reserva, um dos melhores vinhos nacionais.
Próxima parada: Miolo. Reserve ao menos uma hora para conhecer a famosa vinícola. Enólogos conduzem os turistas primeiramente aos parreirais. A jornada segue toda a etapa de produção até chegar ao gran finale: uma diferenciada degustação em que você escolhe o tipo de vinho que deseja experimentar: branco, tinto leve, tinto encorpado…
Como é praxe, gigantes e vinícolas butiques se alternam na estrada. Praticamente do outro lado da cerca, a Lidio Carraro é daquelas em que o bate-papo com os produtores viram uma aula de história sobre Bento Gonçalves e as uvas. Com direito ainda a experimentar o excelente tannat meticulosamente elaborado pela família.
Finalmente, a feliz hora de rechear o estômago com algo sólido que não seja pão. No início da Via Trento, o restaurante Casa Madeira funciona até às 15h, tem perdiz e codorna como carros-chefes e é famoso pela venda de um suco de uva menos ácido que a média. Como você ainda vai comer muita ave na sua passagem por Bento, um filé mignon pode cair bem. Tudo, claro, servido com um molho à base de vinho tinto.
Depois da pausa para o almoço, mais degustação de vinhos. A tradicional Casa Valduga talvez tenha o melhor esquema de visitas. Aliás, dentro da vinícola funciona uma pousada e dois restaurantes.
Seu diferencial é um vídeo de apresentação no início e um minicurso de degustação ministrado no final. A lojinha não é feita só de vinhos. Taças, acessórios, geleias e sucos de uva estão expostos nas prateleiras.
Próxima parada: o Vivatto Parque, um programa dois em um. Externamente, passeia-se no extenso gramado ao lado das ruínas de uma capela de 1876. Dentro da casa, marcas conceituadas como Tramontina e uma loja de chocolate artesanal com itens do mundo inteiro realizam o sonho de quem não dispensa uma boa comprinha.
Após tamanha intensidade, tome um bom banho e descanse um pouco para se recuperar da maratona. Que ainda tem um trecho final para lá de saboroso.
Fechando os trabalhos, nada mais típico do que se fartar em uma galeteria. O restaurante Casa di Paolo está instalado em uma réplica de um castelo medieval, na estrada para Garibaldi.
Uma primorosa sopa de capelete prenuncia a inesquecível jornada. A partir daí, garçons vão deixando (e repondo) sobre a mesa salada de almeirão, queijo a dorê, massas caseiras, polenta e o famoso galeto marinado em ervas por aproximadamente 12 horas.
Não tem jeito, você vai dormir pesado. Mas feliz que só.
Dia 2: um roteiro pela “Toscana brasileira”
Ainda de ressaca pela jornada do dia anterior? Sem exagerar muito, hoje o despertar pode ser um pouco mais tardio. O período matutino será todo dedicado a explorar os primórdios de Bento Gonçalves, época em que a cidade ainda era a Colônia Dona Isabel.
No final do século 19, a então estrada para Caxias do Sul começou a receber inúmeras construções de pedra e madeira. Eram os imigrantes italianos fincando seu lugar no solo e dando início à próspera Colônia São Pedro.
Há cerca de 20 anos, as casas foram restauradas, resultando no roteiro Caminhos de Pedra, passeio imperdível para quem gosta de história, compras e gastronomia.
O trecho da estrada nem é muito longo – apenas sete quilômetros – mas avista-se pelo menos 61 construções (13 delas são casas comerciais com visita interna). O velocímetro do carro dificilmente ultrapassará os 40 km/h. É um passeio para ser feito sem pressa.
Assim como no Vale dos Vinhedos, você pode pegar um mapa no posto de informações turísticas na entrada do roteiro (nesse caso, o mapa é cobrado). Para deixar o passeio ainda mais rico, considere contratar um guia.
Invariavelmente a primeira parada será na Casa di Dolci, uma simpática construção de tijolos. No porão da propriedade, o visitante degustará doces e geleias de várias frutas.
Em seguida, siga para “Il Cantuccio del Pomodoro e della Gasosa”, ou simplesmente, Casa do Tomate. A construção está tão bem restaurada que parece recente. Aqui, o pomodoro é a estrela principal. Geleias, sucos e pasmem, até cerveja reforçam o portfólio da empresa.
A Casa da Ovelha é diversão certa para toda a família. Enquanto os adultos conhecem a produção e degustam os fortes queijos caprinos, a criançada pode acompanhar a tosquia ou a ordenha dos animaizinhos. Nem todas as construções são originárias do local.
A vizinha Casa das Massas e Artesanato estava em outra cidade e foi trazida para cá na época do lançamento do roteiro, caindo como uma luva no contexto da estrada. É missão das mais difíceis não encher o porta-malas do carro com tortéi, capeletti e biscoitos italianos.
Você sabia que uma das construções chegou até a indiretamente concorrer ao Oscar? Quem assistiu ao filme O Quatrilho vai reconhecer a Cantina Strapazzon como um dos cenários.
Na Casa da Erva-Mate, é possível comprar os ingredientes para fazer chimarrão e aprender a sorver da tradicional bebida dos pampas.
À esta altura, esperamos que a ressaca do dia anterior já tenha passado. Porque é hora de voltar aos vinhos! A cidade de Bento Gonçalves tem quatro grandes vinícolas: Miolo, Casa Valduga, Aurora e Salton. Falta conhecer essa última para completar a coleção.
Pegue a RS-470 no sentido Veranópolis e entre no trevo de Tuiuty. A visita da Salton é aquela em que você acompanha o nervoso cotidiano de uma vinícola mais de perto: parece menos um tour turístico.
Você caminhará por uma passarela sobre a linha de produção. No final, será brindado com uma portentosa degustação, repleta de espumantes.
Principal rio da região vinícola, o Rio das Antas marca a paisagem desse trecho da cidade. Com o fim da tarde chegando, que tal ir até o mirante do quilômetro 201 da RS-470 e ver uma das inúmeras ferraduras do rio, além de uma bela ponte em arco?
É difícil, mas resista à tentação de um segundo galeto e vá jantar dentro de uma vinícola. Pequeno restaurante dentro da Casa Valduga, o menu da Maria Valduga é repleto de delícias típicas italianas.
Fonte: Viagem Turismo