Especial Serra Gaúcha – Capítulo 3

Especial Serra Gaúcha – Capítulo 3

UVAS CULTIVADAS NA SERRA GAÚCHA

Vamos conhecer agora as grandes rainhas responsáveis pela grande variedade de vinhos finos e de qualidade produzidos na região da Serra Gaúcha.

Vamos entender como foram aclimatadas em solo brasileiro as viníferas mais conhecidas no planeta.

Tipos de Uvas

A classificação das variedades de uvas (Embrapa Uva e Vinho) se dá conforme a origem: americana (vitis lambrusca, vitis riparia, etc…) e viníferas européias (para elaboração de vinhos finos).

Uvas tintas

Cabernet Sauvignon

 

A Cabernet Sauvignon é uma antiga uva cultivada da região de Bordeaux, França, hoje plantada com sucesso em muitos países vitícolas. Atualmente é a vinífera tinta mais importante do Estado. É uma espécie muito vigorosa e medianamente produtiva. Em vinhedos bem conduzidos, obtêm-se uvas aptas à elaboração de vinhos típicos, que podem evoluir em qualidade com alguns anos de envelhecimento. Principais descritores aromáticos: pimentão verde, violeta, amora, cassis, ameixa, coco, baunilha, couro, cacau e tabaco.

Merlot

A Merlot é uma uva também originária da Região de Bordeaux. Possui cacho geralmente alado de tamanho médio e bagas pequenas. Quando elaborado com uva madura, seu vinho é redondo, aveludado, potente, rico em álcool e de coloração intensa. Devido à sua constituição fenólica, pode ser fermentado e amadurecido em barrica de carvalho. É um vinho que pode ser consumido puro ou cortado com outros varietais, principalmente, com o Cabernet Sauvignon. Principais descritores aromáticos: os mais complexos lembram trufas e são frutados, com características de ameixa, cereja preta, framboesa e groselha.

Barbera

A Barbera é originária da região norte da Itália. Além de grande expressão em seu país de origem, a Barbera também é cultivada na Argentina e no Brasil. Foi introduzida no Rio Grande do Sul no início do século XX, e seu cultivo se difundiu na Serra Gaúcha, a partir de 1925. Foi a principal vinífera tinta da região até 1983. A partir daí, cedeu espaço para viníferas tintas francesas como Cabernet Franc, Merlot e Cabernet Sauvignon. É uma uva de cultivo produtivo e bem adaptada no Rio Grande do Sul. A uva normalmente atinge elevado teor de açúcar e apresenta acidez também elevada. É sensível às podridões do cacho, havendo prejuízos em anos chuvosos durante o período de maturação. Origina vinho rico em extrato, com coloração intensa e acidez elevada. Com estas características, a Barbera poderia ser uma boa opção de uva tinta para a região nordeste do Brasil.

Obs.: Na Serra Gaúcha existe uma outra vinífera cultivada, não identificada, difundida com o nome de Barbera d´Asti.

Pinot Noir

O berço da Pinot Noir é a Borgonha, na França, onde é utilizada para a elaboração de vinhos tintos de alto conceito. Também ocupa lugar de destaque na região da Champagne, originando, juntamente com a Chardonnay, os famosos vinhos espumantes da região. É uma uva de cultivo precoce, de ciclo curto, e por isso muito difundida em vários países da Europa setentrional. Foi introduzida no Brasil há mais de setenta anos, permanecendo nas coleções ampelográficas das estações experimentais. A difusão comercial da Pinot Noir no Rio Grande do Sul foi iniciada no final da década de 1970, sendo, aqui, utilizada para a elaboração de vinho tinto varietal e para champanha. Entretanto, é uma uva de difícil cultivo e adaptação às condições do Estado em razão de sua alta susceptibilidade à podridão causada por Botrytis cinerea e a outras podridões da uva. Se ocorrer chuva durante a maturação, o que é normal no sul do Brasil, além das perdas diretas causadas pelas podridões, o vinho não apresenta sua tipicidade varietal.

 Pinotage

Pinotage é resultante do cruzamento Pinot Noir x Cinsaut, realizado na África do Sul pelo Prof. Peroldt, em 1922. Ela só foi propagada para testes em áreas comercias em 1952, e em 1959 foi consagrada ganhando o concurso de vinhos jovens da cidade do Cabo. O nome Pinotage é uma combinação dos nomes Pinot com Hermitage, sendo esta uma denominação usada para a Cinsaut na África do Sul. Foi trazida para o Brasil em 1979, pela Maison Forestier, sendo cultivada experimentalmente nos vinhedos da empresa, em Garibaldi. A partir de 1990 começou a ser plantada comercialmente na Serra Gaúcha. É produtiva, resistente a podridões do cacho e apresenta ótimo potencial glucométrico (por razões já explicitadas), atingindo, normalmente, 20ºBrix a 22ºBrix, com uma acidez total ao redor de 110 mEq/L. Origina vinho frutado, apto a ser consumido jovem.

Bonarda

É uma uva cultivada na região norte da Itália. Foi introduzida no Rio Grande do Sul em 1930, sendo logo difundida nos vinhedos da Serra Gaúcha. Durante muitos anos ocupou a segunda posição entre as viníferas tintas cultivadas no Estado, superada apenas pela Barbera. Com o incremento na difusão das viníferas francesas, a partir da década de 1970, a Bonarda foi desvalorizada no mercado, verificando-se rápida diminuição de sua área cultivada. É uma uva de brotação precoce, vigorosa e produtiva. Normalmente atinge boa graduação glucométrica, 19ºBrix a 20ºBrix, e origina ¬vinho com boa cor e rico em extrato.

Cabernet Franc 

Uva francesa cultivada na região de Bordeaux, a Cabernet Franc foi introduzida no Rio Grande do Sul pela Estação Agronômica de Porto Alegre, por volta de 1900. Na década de 1920 já era cultivada comercialmente pelos irmãos maristas em Garibaldi. Sua grande difusão no Estado, entretanto, ocorreu nas décadas de 1970 e 1980, tornando-se a base dos vinhos finos tintos brasileiros nesse período. A partir daí, foi superada pelas viníferas Cabernet Sauvignon e Merlot nos novos plantios de uvas tintas finas. A Cabernet Franc adapta-se muito bem às condições da Serra Gaúcha, é medianamente vigorosa e bastante produtiva, proporcionando colheita de uvas de boa qualidade, atingindo facilmente 18ºBrix a 20ºBrix, em vinhedos bem conduzidos. Origina vinho com tipicidade, apropriado para ser consumido ainda jovem. Em anos menos chuvosos durante o período de maturação, o vinho é mais encorpado e tem coloração mais intensa, apresentando considerável evolução qualitativa com alguns anos de envelhecimento. Na região do Vale do Loire, na França, é utilizada para a elaboração de vinhos rosados de alta qualidade.

 Gamay

A Gamay é originária da Borgonha, França. O cacho é pequeno e as bagas são de tamanho médio. O vinho geralmente jovem, fresco e com acidez relativamente elevada. O corpo é magro devido a uma franca composição em taninos. A cor varia de púrpura a violeta e sua intensidade é de média a fraca. É um vinho para ser consumido jovem, mas há produtos de qualidade e com características para o envelhecimento. Principais descritores aromáticos: frutas vermelhas, como o morango.

Syrah

Também conhecida como Shiraz, há até pouco tempo sua origem era desconhecida. Entretanto, segundo estudos recentes feitos com DNA, é provavelmente o cruzamento natural entre as variedades Mondeuse Blanche (branca e originária do Departamento de Savoie) e Dureza (tinta e originária do Departamento de Ardèche) e provavelmente ocorrido na Região do Vale do Rio Rhône, França. O cacho é de tamanho pequeno a médio e as bagas são pequenas. Quando elaborado com uva madura, o vinho tem potencial alcoólico, é apto ao envelhecimento e de ótima qualidade. Possui cor intensa, é aromático, fino e complexo. É tânico, estruturado e com acidez adequada. Não confundir com a Petite Sirah que, também segundo estudos recentes com DNA, é uma denominação que na Califórnia engloba uma série de variedades, como a Durif, Pelorsin e Pinot Noir. Principais descritores aromáticos: trufas, tabaco, alcaçuz e frutas vermelhas – groselha, mirtilo e framboesa – floral e especiarias.

Tannat

A Tannat é originária da Região Basca, sudoeste da França. Tem cacho grande e bagas médias ou pequenas. Hoje, é o vinho emblemático do Uruguai. É muito rico em compostos fenólicos, estruturado e de coloração muito intensa. Geralmente ácido, duro e nervoso. Se a uva é madura, o vinho envelhecido em barrica de carvalho torna-se relativamente redondo, mais suave e agradável. Sua coloração o credencia para ser usado também em cortes com outros vinhos deficientes em cor. Tem características que permitem envelhecimento prolongado. Principais descritores aromáticos: frutas vermelhas, cassis, framboesa, ameixa e marmelo, caramelo e especiarias.

 Tempranillo

A Tempranillo é uma variedade originária de Rioja, Espanha, mas também em Portugal, com outras denominações. O tamanho do cacho varia de médio a grande e as bagas são médias. O vinho pode ser fino e complexo, é de boa qualidade, cor intensa e bem estruturado, mas geralmente com pouca acidez. Principais descritores aromáticos: frutas vermelhas – framboesa e morango – especiarias e tabaco.

Touriga Nacional

Originária de Portugal, possui cachos e bagas de tamanho médio. É utilizada na elaboração dos vinhos do Porto de qualidade e, também, de vinhos não licorosos. O vinho é complexo e potente, com bom corpo, boa estrutura fenólica, cor relativamente intensa, podendo ser envelhecido por longo tempo. Principais descritores aromáticos: aroma frutado, principalmente, de cassis.

Sangiovese

A Sangiovese é originária da Toscana, Itália, possui cachos e bagas de tamanho médio. É utilizada na elaboração de vinhos Chianti e nos chamados Supertoscanos. É um vinho jovem para ser consumido no dia a dia, de corpo médio, tem uma cor vermelha rubi, tênue e agradável e de sabor enxuto e harmônico. Principais descritores aromáticos: Concentra aromas de amoras silvestres e carvalho.

Bordô

É uma uva selecionada cultivada em Ohio, Estados Unidos, por Henry Ives, a partir de sementeira estabelecida em 1840. Tem importância comercial só no Brasil, onde foi introduzida em 1904, procedente de Portugal. Foi inicialmente difundida no Rio Grande do Sul, depois em Santa Catarina, Paraná e Minas Gerais. É uma vinífera muito rústica e resistente a doenças fúngicas. A uva apresenta alta concentração de matéria corante, motivo principal de sua significativa difusão. Origina vinho e suco intensamente coloridos que, em cortes, servem para a melhoria da cor dos produtos à base de Isabel e de Concord. Participa, embora em pequena escala, do mercado de uvas in natura, sendo utilizada como uva de mesa e também para a elaboração de suco de uva caseiro.

Concord

 

Uva tradicional cultivada a partir da Vitis labrusca, a Concord é originária de Massachussets, Estados Unidos, onde foi a uva mais popular no final do século XIX, sendo utilizada para consumo in natura e para a elaboração de vinho e de suco. Foi trazida para o Rio Grande do Sul na segunda metade do século XIX, ganhando ampla difusão nas várias regiões do Estado e sendo, em seguida, levada para Santa Catarina e para o Paraná. Com o início da produção de suco de uva concentrado, em meados da década de 1970, houve aumento da demanda desta uva e consequente crescimento da área plantada na Serra Gaúcha. É uma vinífera de alta rusticidade, normalmente cultivada de pé-franco e, muitas vezes, dispensando tratamentos com fungicidas. Para a obtenção de boas produções comerciais, entretanto, normalmente são feitas algumas pulverizações. A Concord é relativamente precoce, medianamente vigorosa e bastante produtiva quando bem cultivada. O teor de açúcar é baixo, entre 13ºBrix e 16ºBrix. Entretanto, pelas suas características de aroma e sabor, ainda é a uva preferida para a elaboração de suco.

Isabel

A Isabel é tida como um híbrido natural de Vitis labrusca x Vitis vinifera. Segundo registros, originou-se de semente na Carolina do Sul, Estados Unidos, antes de 1800. Daí foi levada para o norte por Isabella Gibbs, expandindo-se rapidamente na costa leste do país. Entre 1820 e 1830 foi levada para a Europa onde alcançou grande difusão. Foi introduzida em São Paulo entre1830 e 1840, chegando ao Rio Grande do Sul pela Ilha dos Marinheiros entre 1839 e 1842. Teve rápida expansão em todos os estados vitícolas do Brasil, constituindo-se na base do desenvolvimento da vitivinicultura brasileira. A Isabel é uma vinífera de alta fertilidade e rusticidade, proporcionado colheitas abundantes com poucas intervenções de manejo. Tem o sabor característico das labruscas, adaptando-se a todos os usos: é consumida como uva de mesa; usada para a elaboração de vinhos branco, rosado e tinto, os quais, muitas vezes, são utilizados para a destilação ou para a elaboração de vinagre; origina suco de boa qualidade; pode ser matéria prima para o fabrico de doces e geleias. É a uva mais plantada no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Também vem apresentando boa performance no Triângulo Mineiro e no Mato Grosso, onde poderá ser uma boa ¬opção para a elaboração de suco.

Uvas brancas

Chardonnay

 

A Chardonnay é uma variedade que tem sua origem na Borgonha, França. Os cachos e as bagas são pequenos. Apresenta bom potencial para produção de açúcar, porém conserva sua acidez. O vinho Chardonnay é potente, tem bom volume de boca e pode apresentar grande complexidade aromática. No Brasil, o Chardonnay é jovem e fresco, mas apresenta composição que favorece a fermentação em barrica de carvalho. Sua característica pode ser diferente, dependendo do método de fermentação utilizado. Destina-se, também, à elaboração de champanhes, espumantes e vinhos licorosos. É um dos vinhos de maior aceitação no mercado. Principais descritores aromáticos: maçã, citrus, abacaxi, pêssego, melão e maracujá; baunilha e manteiga..

Sauvignon Blanc

Provavelmente provenha das regiões centrais ou do sudeste da França. Tem cachos e bagas pequenos. Os vinhos são secos, elegantes, finos e típicos. Pode ser utilizada para a elaboração de vinho licoroso de grande qualidade, como os botritizados. Principais descritores aromáticos: vegetal, frutado – citrus, damasco, pêssego, avelã, maracujá – floral e manteiga.

Moscato

Sob esta denominação, há uma série muito grande de variedades. A maior delas tem sua origem provavelmente no Oriente Médio. O Moscato Branco tem cachos e bagas grandes. Pode dar origem a vinhos secos ou licorosos, com grande tipicidade devida ao caráter varietal de moscato. O Moscato, produzido no Vale do São Francisco, possui cacho pequeno e bagas médias ou pequenas e destina-se especialmente à produção de espumante moscatel e vinho licoroso. Isso deve ao seu potencial de açúcar, sabor intenso e delicado de moscato. Principais descritores aromáticos: flores brancas e forte característica do sabor moscato.

 Riesling Renano

A variedade Riesling Renano, originária do Vale do Rio Reno, é mais difundida no mundo que a Riesling Itálico. Tem cachos e bagas pequenos. O vinho é de alta qualidade, agradável, de bom equilíbrio, açúcar, acidez e muito aromático. Pode ser utilizada, também, para a elaboração de excelentes vinhos licorosos quando a uva é supermadura ou quando apresenta podridão nobre. Principais descritores aromáticos: flores brancas, frutas – citrus, pêssego, damasco, masco, abacaxi, mel e minerais.

Pinot Grigio

É uma variedade originária da Bourgogne, França. Possui película de cor “cinza”, podendo ser mais intensa nas regiões meridionais. Amadurece quase na mesma época que a Pinot Noir. É uma variedade relativamente vigorosa, mas não muito produtiva. É adaptada a solos profundos, secos e bem expostos. Adapta-se bem ao frio, mas é sensível à podridão cinzenta e ao míldio. Possui cachos e bagas pequenos ou muito pequenos. O vinho resultante é branco, possante e encorpado. Principais descritores aromáticos: frutas de polpas brancas, melão e pêssego.

Peverella

Esta casta, originária do sul do Tirol, foi trazida para o Rio Grande do Sul no início do século XX por João Dreher Filho. Sua difusão na Serra Gaúcha ocorreu a partir da década de 1920, estimulada principalmente pela empresa Dreher. Na década de 1940 era a principal vinífera branca cultivada no Estado, mantendo-se em posição de destaque nesse grupo até a década de 1970. É uma uva vigorosa que, entretanto, apresenta o inconveniente da alternância de produção. Chega a 30 t/ha em anos férteis e não atinge 10 t/ha nos anos menos produtivos. Apresenta boa resistência a doenças fúngicas, especialmente às podridões do cacho, e normalmente é colhida com 15°Brix a 16°Brix. Origina vinho de boa qualidade, normalmente utilizado para cortes. A área cultivada com Peverella vem decrescendo há vários anos por causa, principalmente, do declínio provocado por vírus e a sua alternância de produção, associados a um maior estímulo para o plantio de outras viníferas por parte da indústria vinícola.

Prosecco

Estudos ampelográficos, realizados a partir de 1979, mostram que a uva encontrada nos vinhedos de Bento Gonçalves, com o nome de Biancheta Bonoriva, é, na realidade, a Prosecco. Não há registros sobre sua difusão, mas, segundo informações dos viticultores, ela é plantada há muitos anos neste município. Mais recentemente, no final da década de 1970, Ítalo Zanella, empresário e viticultor de Farroupilha, importou mudas de Prosecco da Itália para plantio em sua propriedade. Este material serviu de base para novos plantios na região a partir de 1980. É uma vinífera do norte da Itália, onde é utilizada para a elaboração de conceituado vinho espumante. Apresenta bom desempenho agronômico na Serra Gaúcha, porém, em virtude da precocidade de brotação, pode sofrer danos causados por geadas tardias em áreas susceptíveis. A exemplo do que ocorre na Itália, também aqui origina espumantes de boa qualidade.

Sémillon

Sauternes, na França, é o berço da Sémillon. É a principal uva branca da região de Bordeaux, onde é utilizada principalmente para a elaboração de famosos vinhos licorosos naturais, como os das denominações Sauternes, Barsac e Montbazillac. Foi trazida para a Serra Gaúcha pela Estação Experimental de Caxias do Sul em 1921, procedente dos vinhedos Vila Cordélia, de São Paulo. Relatos desta instituição indicavam a Sémillon como uma vinífera promissora para a região ainda na década de 1930, quando já era cultivada pelos irmãos maristas em Garibaldi. A grande difusão desta uva na região, entretanto, ocorreu a partir do início da década de 1970, com grande participação da Estação Experimental de Caxias do Sul. O volume de uvas vinificadas de Sémillon chegou a superar 7,3 milhões de kg no ano de 1985. Daí em diante, a produção declinou em consequência da política de preços mínimos que favoreceu outras viníferas. É uma uva de vigor médio, produtiva e muito bem adaptada às condições da Serra Gaúcha. Aqui, origina vinho neutro, normalmente utilizado em cortes com outros vinhos finos, sendo também usado como varietal.

Trebbiano

Uva italiana da região de Toscana, a Trebbiano tem grande difusão no mundo vinícola. É bastante cultivada na Itália, onde origina vinhos brancos secos e participa da composição do Chianti. É extensamente cultivada na França para a elaboração de vinhos para a destilação em Cognac e em Armagnac, além de participar da composição de vinhos de várias denominações de origem. Também está presente nos vinhedos da Bulgária, Grécia, Austrália, África do Sul, Estados Unidos, México, Argentina e Uruguai. Faz parte da história do cultivo de viníferas no Rio Grande do Sul, tendo sido uma das primeiras castas desse grupo a serem cultivadas no Estado. Já na década de 1930 era a vinífera mais propagada na Serra Gaúcha, destacando-se pela sua adaptação e produtividade. Representou, até 1973, mais de 50% da uva vinífera branca produzida na região da Serra. Também é cultivada na região da fronteira, em Santana do Livramento, e no Vale do Rio do Peixe, em Santa Catarina. No Rio Grande do Sul, é utilizada para a elaboração de vinho varietal, normalmente comercializado com os nomes de `Ugni Blanc` ou `Saint Émillion`, para a produção de espumantes e para cortes com outros vinhos finos de mesa.

Gewurztraminer

Referências indicam a Gewurztraminer como uma mutação somática da Traminer Blanc, uma uva provavelmente originária do Tirol Italiano. Foi levada para a Alemanha no século XVI, onde teria sido denominada Traminer Rother (Traminer Rosa). Na Alemanha, na região do Palatinado, duas formas rosadas foram distinguidas pela seleção: a Savagnin Rose, não aromática, e a Gewurztraminer, aromática. Foi introduzida no Rio Grande do Sul pela Estação Experimental de Bento Gonçalves, em 1948, procedente da França. Entretanto, só foi difundida comercialmente no Estado a partir do final da década de 1970, sendo cultivada na Serra Gaúcha e em Santana do Livramento. É uma vinífera de difícil cultivo por causa da alta susceptibilidade ao declínio e morte de plantas e à podridão cinzenta da uva, causada por Botritys cinerea. Além disso, é uma uva de baixa produtividade. O conjunto destes fatores, após um período inicial de euforia, determinou a redução da área plantada com esta uva no Rio Grande do Sul. O vinho de Gewurztraminer é reconhecido internacionalmente pela fineza e intensidade de aroma e sabor. É um dos principais varietais produzidos na região da Alsácia, na França.

Malvasia Amarela

A Malvasia Amarela foi introduzida no Rio Grande do Sul pela Estação Experimental de Bento Gonçalves, em 1960, procedente da Estação Experimental de Caldas-MG, sob a denominação de Malvasia de Lípari. Na verdade, não é Malvasia de Lípari. Trata-se, possivelmente, da Malvasia Bianca di Candia descrita na ampelografia italiana. Demonstrou bom comportamento nos experimentos de Bento Gonçalves, sendo logo depois difundida nos vinhedos da região, principalmente neste município e em Garibaldi. Não se tem ideia exata da importância desta vinífera na região porque ela, assim como outras uvas, é comercializada sob a denominação genérica Malvasia. É utilizada para a elaboração de vinho branco neutro, usado em corte com outros vinhos finos de mesa ou como vinho base para a elaboração de espumantes.

Malvasia Bianca

A Malvasia Bianca foi introduzida no Rio Grande do Sul pela Estação Experimental de Caxias do Sul, em 1970, procedente da Universidade da Califórnia. Avaliada pela pesquisa, demonstrou bom desempenho produtivo na Serra Gaúcha, surgindo como uma alternativa de uva aromática para a região. A partir de unidades de observação instaladas no campo de testes da Cooperativa Vinícola Aurora Ltda e em propriedades de viticultores, começou a ser plantada comercialmente em meados da década de 1980. Origina vinho acentuadamente moscatel que pode ser comercializado como varietal, ser usado como fonte de aroma em cortes com outros vinhos ou ¬servir como base para espumantes.

Riesling Itálico

A origem da Riesling Itálico não está definida, pois se tem notícia de seu cultivo em vários países europeus como a França, Alemanha, Itália e Romênia. O cacho e a baga são pequenos ou médios. Elaborado com uva não suficientemente madura, o vinho tem pouco corpo e é ácido. Mas se a uva for madura, ele é equilibrado, delicado, agradável, fresco e aromático. Das duas Riesling é a mais cultivada no Brasil e seu vinho deve ser consumido jovem. Principais descritores aromáticos: flores brancas e frutas – citrus, maçã e abacaxi.

Malvasia Di Candia

Malvasia di Candia é uma vinífera italiana, cultivada, sobretudo, nas regiões de Piacenza e Parma. Foi difundida no Rio Grande do Sul pela Companhia Vinícola Riograndense, que a cultivou nos municípios de Flores da Cunha, Caxias do Sul e Pinheiro Machado, para elaborar um vinho varietal suave, tipicamente aromático. Embora apresente bom desempenho agronômico e intenso e agradável aroma ¬moscatel não alcançou grande difusão no Estado.

 Malvasia Verde

 

A cor esverdeada da película da uva deu à Malvasia di Lipari a denominação regional de Malvasia Verde, utilizada na Serra Gaúcha. É uma antiga casta que, segundo a ampelografia italiana, deve ter sido levada por colonizadores gregos para a ilha de Salina, na Itália, por volta de 588 a.C.. Embora não se disponha de informações sobre a procedência e data de entrada no Rio Grande do Sul, sabe-se que ela foi uma das primeiras uvas viníferas cultivadas no Estado. Na década de 1930, a Malvasia, possivelmente esta, era uma das viníferas brancas mais disputadas pela indústria vinícola nos municípios de Bento Gonçalves e Garibaldi. É uma uva produtiva e resistente às podridões do cacho. Origina vinho branco neutro, normalmente utilizado para cortes com outros vinhos finos ou como vinho base para a elaboração de espumantes.

Viognier

É uma variedade originária das encostas do Rio Ródano, França. É de maturação média a tardia e se adapta bem em solos profundos, mas não muito férteis. Tem brotação precoce, o que pode acarretar prejuízos quando exposta a geadas tardias. Possui certa resistência contra doenças fúngicas. Possui cachos e bagas pequenos. Seu vinho é muito aromático, complexo e de qualidade. Pode ser alcoólico e grão, mas, dependendo das condições, pode ter pouca acidez. Principais descritores aromáticos: flores brancas e frutas de caroço.

Níagara

Uva derivada da Vitis labrusca, a Niágara Branca foi selecionada do cruzamento Concord x Cassady, realizado no condado de Niágara, Nova Iorque, em 1868. Logo difundiu-se nos Estados Unidos, sendo ainda bastante cultivada naquele país como uva de mesa e para a elaboração de vinho e suco. Entrou no Brasil pelo Estado de São Paulo, onde foi introduzida pelo fruticultor Benedito Marengo, em 1894. Ganhou expressão a partir de 1910, sobrepujando a Isabel como uva de mesa nos anos subsequentes. De São Paulo expandiu-se para vários estados brasileiros, sendo amplamente difundida no sul e sudeste do país como uva de fundo de quintal, em face de sua rusticidade e resistência a doenças. Destacam-se, atualmente, como produtores de Niágara Branca o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Minas Gerais. É utilizada principalmente como fonte de matéria prima para a elaboração de vinho, muito típico por suas características de aroma e sabor, amplamente aceito pelo consumidor brasileiro. Perdeu espaço como uva de mesa para a Niágara Rosada.

 Niágara Rosada

 

É uma mutação somática da Niágara Branca, detectada em parreiral do Sr. Antônio Carbonari, em 1933, no município de Louveira, São Paulo. Distingue-se da forma original, branca, pela intensa cor rosada das bagas. Difundiu-se rapidamente, substituindo a Niagara Branca como uva de mesa, em virtude de o consumidor brasileiro preferir uvas rosadas para consumo in natura. É a principal uva de mesa cultivada no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no sudeste de São Paulo. Nos últimos anos, vem sendo plantada nas regiões tropicais do Brasil, especialmente no noroeste de São Paulo, no Mato Grosso, no Mato Grosso do Sul e no norte de Minas Gerais. Como resultado, já começa a aparecer no mercado em períodos de entressafra das regiões tradicionais, com perspectivas de grande expansão nos próximos anos. Além dos plantios comerciais, a Niagara Rosada apresenta ampla difusão em pequenos parreirais para consumo doméstico, devido a sua produtividade e rusticidade.

Goethe

A uva difundida em todo o Rio Grande do Sul e em Santa Catarina sob a denominação Goethe ou alguma das sinonímias acima é, na verdade, uma vinífera de Vitis labrusca ainda não identificada, diferente da Goethe. Registros históricos dão conta que esta uva era plantada em várias regiões do Estado já nas décadas de 1920 e de 1930. Possivelmente, foi aqui introduzida juntamente com outras uvas americanas, como Isabel e Concord, na segunda metade do século XIX. Atualmente, as maiores concentrações de vinhedos desta vinífera estão nos municípios de Jaguari, onde origina um vinho típico regional, e de Farroupilha, onde também é utilizada para a elaboração de vinho característico. É uma vinífera muito rústica, resistente a doenças fúngicas e, normalmente, plantada de pé-franco. Também tem sido usada, em pequena escala, como porta-enxerto. Caracteriza-se pelo alto vigor, cachos pequenos soltos, bagas esféricas, rosadas, película espessa. As bagas, quando maduras, desprendem-se facilmente do engaço. Origina vinho branco intenso e tipicamente aromático, muito apreciado por alguns, detestado por outros. A verdadeira Goethe é cultivada em pequena escala, tanto no Rio Grande do Sul como em Santa Catarina, com o nome Martha.

 Flora

 

Flora é uma uva de Vitis vinifera, resultante do cruzamento Sémillon x Gewurztraminer, selecionada pelo Prof. H. P. Olmo, da Universidade da Califórnia. Foi trazida para o Rio Grande do Sul pela Estação Experimental de Caxias do Sul, em 1965. Destacou-se entre outras viníferas pelo comportamento produtivo e qualidade da uva obtidos nos experimentos conduzidos na Serra Gaúcha. Entretanto, os primeiros plantios comerciais desta uva no Estado foram feitos em Santana do Livramento, pela empresa National Distillers, em meados da década de 1970, onde também apresentou bom desempenho. Ganhou espaço nos vinhedos da Serra Gaúcha a partir de 1990. A Flora é bastante resistente às podridões do cacho, porém, é sensível à antracnose. Apresenta elevado potencial glucométrico e acidez equilibrada. Tem sido usada para a elaboração de vinho branco varietal e também para espumantes, originando produtos de qualidade, com aroma e buquê característicos.

Fonte:   http://www.vinhosnet.com.br/paginas.php?codigo=20

Pela enorme quantidade de uvas cultivadas na Serra Gaúcha, já podemos ter uma ideia da riqueza e da variedade dos vinhos produzidos naquela região. Contamos com 16 tipos de uvas tintas e 21 tipos de uvas brancas.
Na próxima edição de nosso especial, vamos ver os aspectos que integram a paisagem humana ao cultivo da terra e que caracterizam a Serra Gaúcha como a maior região produtora de vinhos no país. Nessa primeira parte de nosso ESPECIAL ENOVÍRTUA SERRA GAÚCHA, falaremos de Bento Gonçalves, Vale dos Vinhedos e da Rota dos Vinhos. A cada semana, traremos informações sobre cada uma das cidades que formam essa rica e espetacular região vinícola brasileira.

 

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