Muito em breve os supermercados brasileiros oferecerão marcas chinesas, a exemplo do que já ocorre na Espanha
O desempenho da China na 25ª edição do Concours Mondial de Bruxelles, em Beijing, anunciado na sexta-feira (25), na qual conquistou o quinto lugar em premiação, com um total de 131 medalhas (5 Grande Ouro e 46 Ouro), consolidou a sua condição de produtor de vinhos de qualidade. Participando com 480 vinhos (contra oito da primeira vez, em 2006), em um total de 9.180, de 48 países, a China teve premiados produtos das regiões autônomas Ningxia e Xinjiang, no Oeste, e das províncias Hebei e Shandong, no Leste. Os mais premiados foram vinhos Merlot, Cabernet Sauvignon, Chardonnay e Marselan – o prêmio Revelação 2018 para o melhor vinho chinês foi para um Marselan de Xinjiang.
Qualidade e quantidade conquistadas pela China em 20 anos, através de grandes investimentos, alguns em parceria com vinícolas internacionais, que levaram o país à condição de sétimo maior produtor, quinto maior importador e quinto maior consumidor do mundo, segundo publicação de abril de 2018 da Organização Internacional da Vinha e do Vinho.
Tudo indica que a China estará, até 2025, entre os três países maiores consumidores e produtores de vinho:
a) o consumo chinês, em 2017, atingiu 17,9 milhões de hectolitros, 7% do total mundial – bastante próximo dos da Alemanha (20,2) e Itália (22,6);
b) apenas 38 milhões de pessoas consomem vinho no país, cujo mercado consumidor total é pelo menos dez vezes maior;
c) tem 870 mil hectares com vinhas, a segunda maior área do mundo, que cresceu menos no ano passado, mas cresceu (6 mil hectares); e
d) sua economia mantém-se crescendo acima de 6% anuais.
Esses indicadores devem ter sido suficientes para levar os organizadores do Concours Mondial de Bruxelles a realizar a sua 25ª edição em Beijing esse ano – a única vez, até agora, que não foi realizado na Europa. As dimensões e a velocidade com que a China saiu da condição de produtora de vinhos sofríveis (eram impressionantes, em 1997), para a de grande produtora, e de vinhos de qualidade, seguem a mesma lógica do país para tudo, da produção e consumo de leite de vaca, ao desempenho nas Olimpíadas: a China quer ser autossuficiente em tudo, a maior, e, se possível, também a melhor. Essa é uma das suas características que os ocidentais têm dificuldade de entender: ao mesmo tempo em que aumenta ano a ano as importações de vinho, maravilhando os países maiores produtores com as vendas crescentes, a China investe pesado para ser autossuficiente. Foi assim com o leite de vaca, está sendo assim agora com o vinho. Quantidade primeiro, qualidade depois. Bebi vinho na China pela primeira vez, em 1997, quando o país estava em 10º lugar no mundo em produção de uvas, com 2 milhões de toneladas; quando morei lá, em 2007, já era o sexto maior, com 6,7 milhões; e em 2016 produziu 14,8 milhões – 20% do total mundial.
Uma das ações preferidas dos seus empresários é comprar áreas de produção nos países de ponta, como o que já ocorre na região de Bordeaux, na França, onde se estima que 120 vinícolas foram compradas por chineses. O mesmo ocorre na Espanha, Austrália, Canadá, e, muito provavelmente, também na África do Sul, Itália, Portugal, Chile e Argentina. Detalhe importante, nesse caso: a imensa região Noroeste e Oeste da China, na qual cresce o plantio de uva, é desértica, um areal só. Sem concorrência alguma por esse espaço, as vinhas poderão crescer muito mais: além de Cabernet Sauvignon e Chardonnay, e híbridos de variedades chinesas e europeias ou americanas, lá são cultivadas variedades desconhecidas dos ocidentais: gongzhubai, longyan ou dragon, shuanghong, beihong, beimei, beibinghong, etc.
Um bom indicador da importância atual da qualidade do vinho na China é a ocorrência em 2018 de três grandes eventos do setor, com poucos dias de diferença: o 10º Simpósio Internacional de Vitivinicultura e Enologia (19 a 22 de abril), em Yangling, Shaanxi; o 25º Concours Mondial de Bruxelles (10 a 13 de maio), em Beijing; e a 20ª Vinexpo 2018, em Hong Kong, de 29 a 31 de maio. Muito em breve os supermercados brasileiros terão vinhos de marcas chinesas, a exemplo do que já ocorre na Espanha. Uma que com certeza está mirando o mercado brasileiro é a Changyu, da cidade portuária de Yantai, na província de Shandong. Ela é a mais antiga do país, e está investindo pesado, para produzir 450 milhões de garrafas.
Fonte: Amanhã