Em nossa fantástica jornada que nos levará ao conhecimento do vinho sobre todos os seus aspectos, falaremos de um pequeno, mas grande objeto e tão importante na conservação e vedação das garrafas de vinho: a rolha de cortiça.
Você, apreciador de vinhos, já deve ter ser questionado muitas vezes, feito perguntas do tipo: Como a rolha é feita?
Quais os tipos de rolhas que existem? Como, quando e onde surgiu?
A sua produção causa impactos negativos ao meio ambiente?
Existem outros tipos de materiais que podem substituir a velha rolha de cortiça?
E o que será do glamour que seu casamento com o vinho produz?
Ele tende a desaparecer?
Colocar a garrafa deitada para que o vinho entre contato com a rolha é lenda ou é uma prática que não dever ser negligenciada?
No presente artigo, tentaremos responder algumas dessas questões e em artigos semelhantes esclareceremos todas as suas dúvidas e questionamentos. Primeiramente, focaremos nos tipos de rolha que existem, na sua fabricação, tratamento e acabamento para depois adentrarmos, em artigos futuros, em seus aspectos históricos e glamurosos.
Para os vinhos tranquilos…
Existem três grandes categorias de rolha para os vinhos tranquilos: as rolhas de cortiça natural, as rolhas colmatadas e as rolhas à base de grânulos de cortiça.
Rolhas de cortiça natural
Elas são retiradas de uma peça inteira de cortiça no sentido vertical paralelamente às diferentes camadas de crescimento da árvore. Elas são separadas de acordo com o seu aspecto visual em várias categorias classificadas normalmente de Sup (melhor aspecto visual) a 6 (menor aspecto visual). Elas são, em sua maioria, monopeças, mas podem ser também constituídas de várias peças de cortiça coladas entre si.
Rolhas colmatadas
As rolhas naturais apresentam um número relativamente importante de lentículas que são submetidas a uma operação denominada de colmatagem. Operação que consiste em obturar estas últimas com uma mistura de cola e de pó de cortiça proveniente do acabamento das rolhas e das rodelas, de modo a melhorar sua apresentação visual e sua qualidade de obturação; o que aumenta a superfície de contato cortiça-vidro. Elas são classificadas igualmente de acordo com o seu aspecto visual.
Rolhas à base de grânulos de cortiça
Rolhas “aglomeradas”
São grânulos de cortiça de qualidade (em particular, os que resultam da trituração das quedas de entubamento ou do corte das rodelas) que entram na composição das rolhas aglomeradas. Esses grânulos são calibrados e colados com o auxílio de colas específicas próprias ao contato alimentar. Diferentes processos industriais são utilizados para a fabricação das rolhas aglomeradas (extrusão e modelagem). Estes últimos são utilizados, entre outros, para alguns vinhos tranquilos com uma duração de guarda frequentemente inferior a seis meses.
Rolhas “técnicas”
As rolhas técnicas foram desenvolvidas há alguns anos. Estas rolhas também conhecidas como “n+n” compreendem um corpo aglomerado de cortiça e rodelas de cortiça natural coladas sobre as duas pontas (n indica o número de rodelas coladas em cada uma das pontas). Pode se encontrar rolhas 1+1, 0+1 ou 0+2. Essas rolhas permitem explorar as excelentes características de obturação da cortiça aglomerada de densidade elevada e de beneficiar, graças à barreira criada pelas rodelas, qualidades da cortiça natural somente em contato com o vinho. Elas são classificadas de acordo com o aspecto visual das rodelas.
Para os destilados…
Esse tipo de rolha permite uma boa preensão e uma grande facilidade de vedação e revedação sempre beneficiando as qualidades habituais do rolhamento de cortiça.
Conhaque, licores, whiskies… utilizam rolhas de cortiça na cabeça, compostas com rolhas elaboradas com cortiça da mais alta qualidade, rolha inserida em uma cabeça que pode ser de simples matéria plástica ou fazer parte de um objeto que personalizará o frasco.
Para vinhos efervescentes e vinhos de Champagne…
As rolhas para os vinhos efervescentes e os vinhos de Champagne são constituídas de um cabo e de rodelas. O cabo é um cilindro de cortiça aglomerada (composta por grânulos da mais alta gama de qualidade) sobre o qual são coladas duas rodelas (mais raramente três) que ficarão do lado do vinho.
Essas rodelas são fabricadas a partir de placas finas de cortiça. Contrariamente às rolhas de vinhos tranquilos, as rodelas são cortadas perpendicularmente às camadas de crescimento e paralelamente às lentículas, no sentido da espessura da placa de cortiça. Essas rodelas são cuidadosamente triadas e as que apresentam o mais fino espelho serão dispostas no contato com o vinho. A montagem do cabo aglomerado e das rodelas se efetua por meio de máquinas (colagem, montagem, prensa e secagem).
Quando uma garrafa de vinho efervescente ou de vinho de Champagne recebe sua rolha definitiva, esta antes de ser introduzida no gargalo, é até então um cilindro. É somente depois de enfiada parcialmente e retida pela capsula que ela tomará sua forma bem conhecida de “cogumelo”.
Fabricação das rolhas
Associação de um savoir-faire ancestral, artesanal e de tecnologias inovadoras, eis como, após a colheita e o repouso no parque, a cortiça é transformada em rolha.
1- o fervimento: A cortiça é fervida em grandes cubas cheias d’água em ebulição, durante aproximadamente uma hora. Isto faz com que as placas de cortiça fiquem limpas com a retirada de substâncias hidrosolúveis como certos sais minerais e taninos, aumentando sua espessura e reduzindo sua densidade, tornando-as mais leves e elásticas. O fervimento vai redirecionar de modo permamente as ondulações das paredes celulares por uma expansão de gases intracelulares o que resultará em uma estrutura muito mais regular.
2 – a estabilização: As placas depois de fervidas serão, em seguida, colocadas em repouso por uma duração mais ou menos longa (de algumas horas a duas semanas, dependendo do processo posto em ação). Durante esse repouso a cortiça se estabilizará dimensionalmente e atingirá a boa consistência para poder ser transformada em rolhas.
3- a tiragem em bandas: As placas são cortadas transversalmente em bandas cuja largura será ligeiramente superior ao comprimento das rolhas a serem fabricadas.
4- o entubamento: As bandas de cortiças passam em seguida por uma entubadeira (máquina automática ou manual que conduz a uma peça rotativa com o diâmetro desejado) que cortará a rolha cilíndrica na espessura da banda de cortiça ao mais próximo da barriga, onde o grão da cortiça é mais fino. As lentículas se encontram deste modo no sentido transversal.
5 – a retificação dimensional: Essa operação permite igualar o comprimento das rolhas e de aperfeiçoar a superfície do cilindro por abrasão. O pó assim produzido é reulitizado para a colmatagem das rolhas que apresentam imperfeições na superfície. A essa etapa a rolha é levada às suas dimensões definitivas.
Uma vez “entubada” da placa de cortiça e colocada nas dimensões de rolha natural “dita semifabricada” é submetida a uma série de transformações qui vão conduzi-la ao estado de rolha acabada pronta para o emprego na tapagem ou vedação.
6- a seleção visual ou triagem: Essa operação permite a separação das rolhas em função de seu aspecto visual. Esta separação é efetuada por uma máquina óptica que vai classificar as rolhas em categorias de acordo com o número, o tamanho e a posição das lentículas e das imperfeições de aspecto presentes sobre o corpo da rolha (chamado “rolamento”). Com essa triagem são eliminadas também as rolhas defeituosas.
7- a lavagem e a secagem: As rolhas são lavadas para desinfectar novamente a cortiça eliminando micro-organismos suscetíveis de contribuir ao “gosto de rolha”. A lavagem é realizada com o auxílio de peróxido de hidrogênio (água oxigenada) ou ácido peracético em soluções diluídas (a lavagem dita “com cloro”, abandonada há vários anos, é proibida pelo Guia de Boas Práticas na Fabricação de produtos de Cortiça [Código Internacional das Práticas de Rolha]). As rolhas são em seguida secadas até atingirem uma umidade desfavorável ao crescimento de microorganismos. A lavagem e a secagem uniformizam atambém a cor das rolhas atenuando as nuanças naturais da cortiça.
8 – a colmatagem: Eventualmente, as rolhas naturais com um aspecto menos bonito e com muitas lentículas poderão ser colmatadas. Esse processo consiste em preencher os poros da superfície (lentículas) com uma mistura de cola e de pó de cortiça que resulta na retificação das rolhas naturais. A colmatagem permite a obtenção de uma melhor vedação na garrafa por meio de um aumento da superfície de contato cortiça-vidro e, desse modo, melhora a aparência das rolhas.
9 – a triagem de acabamento: Essa operação permite o funilamento das categorias de rolhas em função de seu aspecto visual. Essa operação pode ser efetuada por máquinas ópticas ou triagem em esteira ou mesmo manual. Essa triagem leva em consideração o aspecto dos rolamentos e das “cabeças” das rolhas (extremidades).
10 – a marcação: a rolha é personalizada de acordo com os pedidos dos clientes com uma marcação a fogo ou à tinta. A marcação sobre o rolamento é obtida fazendo-se a rolha rolar sobre uma placa com tinta ou aquecida que leva em relevo o texto e/ou o grafismo a imprimir. Encontra-se aí mais frequentemente um número de lote para a traçabilidade. Encontra-se também a “contramarca” do rolheiro que permite identificá-lo. A safra ou um grafismo personalizado é, às vezes, marcado a fogo sobre as cabeças.
11 – o tratamento da superfície ou cetinagem: A cetinagem consiste em munir a rolha com um tratamento de superfície, a fim de facilitar a tapagem e a destapagem da garrafa e de contribuir com a vedacidade da tapagem. Os produtos usados para este fim são a parafina e o silicone.
A rolha é então finalizada e pronta para o uso.
As rolhas passam em seguida por uma máquina para serem contadas. Elas são embaladas em sacos plásticos vedados e podem receber uma dose de dióxido de enxofre (SO2) para prevenir eventuais recontaminações devido ao crescimento de microorganismos. Uma vez selados, os sacos são embalados em caixas de papelão e expedidos aos clientes engarrafadores de vinho.
Hoje, por razões de produção e de proximidade com a matéria-prima, as etapas de fabricação são efetuadas no exterior (Portugal, Espanha e Itália principalmente). Somente as etapas de semiacabamento e acabamento são executadas na França.