Celso La Pastina foi um dos grandes impulsionadores do crescimento do mercado de vinhos finos no Brasil com a sua World Wine, fundada em 1999
Foi em uma viagem para a Borgonha com o amigo Jacques Trefois, que Celso La Pastina provou os vinhos naturais pela primeira vez. “Contei para ele desses vinhos sem sulfito e ele se entusiasmou”, lembra Trefois.
Gourmet convicto e conhecedor dos grandes chefs europeus, quando isso era raro, Trefois foi um dos amigos a quem Celso La Pastina procurou para aprimorar o portfólio de sua importadora de vinhos, a World Wine, fundada em 1999. Primeiro, a dupla programou uma viagem para a França em meados do ano 2001. “O Celso foi provando, gostando e comprando”, lembra Trefois.
Nesta viagem, Celso assinou contrato para importar os rótulos de Philippe Pacalet, o irreverente produtor que elabora vinhos em uma adega cavada na pedra, na Borgonha, e de Dominique Laurent, chef pâtissier que se apaixonou pela Borgonha e hoje é uma das referências para quem procura vinhos de autor na região.
E assim o portfólio da World Wine, que havia nascido dois anos antes como o braço de vinhos da importadora La Pastina, foi ganhando relevância – por mais que Celso apenas divulgasse os vinhos pela sua qualidade, sem chamar atenção para o fato de serem vinhos naturais, orgânicos ou biodinâmicos.
Não tardou para chegarem novos rótulos, como os cultuados champanhes Selosse, os autênticos Château Le Puy, um vinho orgânico em Bordeaux, e os borgonhas de Prieuré Roch.
Trazer glamour para a empresa foi uma das sabedorias do empresário, que faleceu nesta semana, aos 61 anos, depois de uma luta de 54 dias contra a Covid. Se a imagem da La Pastina era associada aos produtos de volume, a sua divisão de vinhos mesclava bons custos/benefícios com rótulos sofisticados.
Em 2011, por exemplo, ele comprou a Enoteca Fasano, da família sinônimo de requinte paulistano. Além do portfólio e dos funcionários, a transação garantiu à World Wine a preferência nos vinhos para a carta dos restaurantes do grupo e também o fornecimento de vários produtos alimentícios. Os famosos panetones do Fasano, por exemplo, são um dos itens fornecidos pela La Pastina até hoje.
Amigos próximos contam da lição de ver o empresário negociar. Inteligente, simpático e visionário são alguns dos adjetivos usados para descrevê-lo. O CEO da uruguaia vinícola Garzon, Christian Wylie, por exemplo, lembra que Celso visitou o projeto ainda em 2013, quando ainda não tinha a vinícola, apenas os vinhedos. No ano seguinte, voltou para o lançamento dos vinhos e dos azeites, acompanhado de Alejandro Bolgheroni, o todo poderoso empresário argentino, dono da vinícola.
Quando o Balastro, o tinto premium da Garzon, passou a ser vendido na Praça de Bordeaux, em 2017, Celso fez a promessa de que o Brasil sempre venderia mais vinhos da marca uruguaia do que os Estados Unidos. Vem honrando o compromisso: a Garzón é a marca mais vendida pela World Wine atualmente. Dados de venda não são divulgados sobre os 3 mil produtos do grupo, dos quais os vinhos representam 70% dos itens comercializados.
Celso foi apresentado ao projeto uruguaio pelo enólogo italiano Alberto Antonini. Os dois ficaram amigos porque a World Wine importa os vinhos Alto las Hormigas, projeto de Antonini na Argentina. “Eu perdi um amigo, um líder, um visionário. Mas a sua energia e o seu exemplo estarão conosco sempre”, afirmou Antonini para NeoFeed.
A trajetória de Celso La Pastina nos negócios começou quando decidiu trabalhar na empresa atacadista da família, no bairro do Brás. Tinha 20 anos, começava a cursar administração de empresas na FGV e foi aprendendo com o pai, seu Vicente, um empreendedor nato.
No site da La Pastina, ele conta sobre essa experiência. “Fui transformando as coisas ao longo do tempo, com a própria evolução, principalmente depois de 1983, quando eu terminei a faculdade e comecei a pisar mais fundo no acelerador.”
A ideia do vinho como negócio surgiu depois do Plano Real, com a abertura das importações. “Com a World Wine, Celso soube transformar a empresa, fez um trabalho de construção de marca”, afirma Adilson Carvalhal Júnior, diretor da importadora Casa Flora e presidente da ABBA, entidade que representa os importadores de vinho no Brasil.
Carvalhal Júnior lembra das conversas que tinham quando as duas empresas ficavam no Brás. “Nossas famílias criaram um vínculo grande, desde meu avô, que era amigo do pai do Celso”, acrescenta ele.
Em 2007, Celso trocou o Brás por um moderno prédio no bairro do Ipiranga. Primeiro mudou os armazéns e desde 2010 toda a área administrativa funciona no novo endereço. Essa sede conta com 11 mil metros quadrados de armazém, com capacidade para 11 mil pallets, sendo 2 mil deles climatizados. Impressiona qualquer importador que vai conhecer onde seus vinhos ficam armazenados.
Depois da mudança, Celso também cuidou da sua sucessão, talvez sabendo de seus problemas no coração. A ideia era que ele e sua mulher Liliane ficassem mais livres para viajar, visitando produtores e selecionando alimentos e bebidas.
Viajar e conversar com os produtores era uma das funções que Celso mais gostava de desempenhar e ele estava entusiasmado com a linha de vinhos Zenith, inspirado no nome da sua mãe, e dos vinhos da Puglia, a origem dos imigrantes La Pastina.
A filha mais velha, Juliana, hoje vice-presidente, estava sendo preparada para assumir a presidência. Na configuração do grupo, os demais filhos (Jeremias, Sophia e Amanda) participam do conselho, junto com Vera, a irmã de Celso, mais ligada ao lado financeiro. O executivo Denilson Moraes, vindo da Friboi e há oito anos no grupo, é o CEO.
Com a saída de cena de Celso, os planos devem continuar. A World Wine está em um processo de expandir as suas lojas. A pandemia até fez adiar os planos, mas é previsto a abertura de pelo menos duas unidades até o final do ano, uma em São Paulo, outra em Florianópolis. Antes da pandemia, o planejamento era de sete lojas. Há também um plano de expansão da La Pastina, ainda mantido em sigilo.
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Fonte: neofeed