Quando se pensa em um país produtor de bons vinhos, logo recordamos dos mais tradicionais, como Itália, França, Argentina e Chile. O que poucos sabem, é que vários países que, apesar de não serem muito famosos pelos vinhos, fazem excelentes rótulos.
Às vezes, para saber um pouco sobre o berço dos bons vinhos, é preciso voltar ao passado. Esta premissa explica o sucesso dos chamados vinhos laranjas e daqueles elaborados em ânforas. São vinhos que vêm despertando a atenção de quem procura diversidade em brancos e tintos e motivando, mesmo os produtores mais conservadores, a aprender com estes, digamos, países alternativos que perderam espaço para os gigantes da vinicultura. Para saber um pouco mais sobre esses países “desconhecidos”, conversamos com o sommelier Marcos Augusto Rachelle. No papo, ele aponta as características de cada nação e os rótulos que valem a pena conhecer. Confira!
Romênia
A Romênia é um grande produtor de vinho. Durante muito tempo, foi o quinto maior da Europa, produzindo principalmente brancos (60%). “A perda de seus mercados tradicionais na Europa Oriental levou a uma reestruturação significativa de suas vinhas – apenas aquelas com potencial de boa qualidade sobreviveram com a ajuda da União Europeia e de outros investidores ocidentais”, explica o profissional.
Existem cerca de 50 apelações diferentes, principalmente espalhadas pela Moldávia no leste, Dobrudja no sudeste, Transilvânia no centro e Oltenia nas encostas do sul dos Cárpatos. Segundo ele, os vinhos mais famosos são os brancos de Cotnari produzidos na Moldávia romena.
Para quem quer conhecer rótulos romenos, ele indica o Domeniile Tohani Feteasca Neagra DOC 2014. “De coloração vermelho-rubi intenso, possui aromas de frutas negras como ameixa e leves notas de cravo e baunilha. Em boca possui sabor de ameixa madura e o final é longo, redondo e com taninos suaves”, aponta.
Egito
Existem milhares de histórias sobre o vinho no Egito. Provavelmente foram os egípcios os primeiros a criar um comércio de vinho há mais de 2 mil anos antes de Cristo. Há registros detalhados da produção e transporte de vinho em pinturas na tumba de Nakht (1.500 A.C.).
Segundo o jornal britânico Telegraph, cientistas espanhóis descobriram que o rei Tutankhamun tinha em sua tumba jarros de vinho tinto que o esperavam no pós morte. O vinho era produzido apenas para os nobres, ou para a corte do Faraó.
“Ainda hoje se produz bons vinhos por lá, o que é uma façanha do ponto de vista climático”, comenta Marcos. Para beber, o rótulo indicado é o Caspar Blanc de Noirs 2008. “Ele é produzido perto da cidade do Cairo em um ambiente de deserto, um verdadeiro milagre. Um varietal 100% Grenache, fermentado por 15 dias e sem contato com madeira. Um vinho surpreendente com aroma floral e sabor de maça verde”.
Israel
Se você é fã de vinho, o nome Rothschild provavelmente lhe traz coisas boas à mente, principalmente em se tratando de vinhos clássicos. E, para muitos, ele é um ícone da grande viticultura francesa, certo? Errado. “O barão Edmond de Rothschild é famoso e reconhecido por, por meio do incentivo à viticultura de um lugar muito querido para ele, ter construído todo um país. E esse país é Israel”, entrega.
De acordo com o sommelier, Israel é pequeno, mas tem todas as condições dos grandes países para produzir vinhos de qualidade, com uma variedade incrível de micro-climas. O extremo norte, em Golã, na fronteira com o Líbano e a Síria, tem clima de altitude, muito ensolarado, com ventos frescos e grande amplitude térmica dia e noite, bem como verão e inverno – quando chega a nevar. Os solos são de basalto vulcânico e tufo, um tipo de calcário firme, mas quebrável, com excelente drenagem. Além das colinas de Golan, estão Tabor, Dalton e Château Golan.
Para degustar, ele indica o espumante brut 562. “É de Tabor, que fica localizada na região da Galiléia. Elaborado com 80% de chardonnay e 20% de cabernet sauvignon, possui bom frescor e uma discreta perlage”, conta.
Áustria
“A Áustria produz ótimos vinhos brancos, alguns mais sérios, encorpados e complexos e outros mais leves e aromáticos, ótimos com peixes e frutos do mar”, explica Rachelle. De acordo com o expert, esse país da Europa Central, com clima continental, produz vinhos extremamente interessantes.
Apesar de uma tradição vinícola muito antiga, a Áustria passou por uma revolução vinícola há menos de três décadas, onde foram implementadas modernas técnicas de vinificação e duplicando a proporção de vinhos tintos produzidos. O resultado dessas mudanças é que, nos dias de hoje, o país produz vinhos ainda mais conceituados e elogiados.
Na Áustria, a uva nativa que mais se destaca é a branca Grüner Veltliner, responsável por ocupar mais de um terço do total dos vinhedos. Esta variedade é responsável pela produção de um vinho seco, único, com nível de acidez marcante e picante como pimenta branca.
Apesar disso, no país são cultivadas mais de 35 uvas – 22 brancas e 13 tintas – oficialmente regulamentadas para a elaboração de vinhos de qualidade. Além das nativas Neuburger, Roter Veltliner, Zweigelt, St. Laurent e Blauer Wildbacher, o país também possui solos para o cultivo das cepas internacionais Pinot Blanc, Sauvignon Blanc, Riesling, Pinot Noir, entre outras. Quem quiser provar algum rótulo austríaco pode escolher o Gemischter Satz 2011.
Geórgia
Estudos mostram que o vinho surgiu há 8 mil anos, na região do Cáucaso, onde hoje fica a República da Geórgia. Em sua paisagem de terrenos acidentados, com montanhas, desfiladeiros, rios e vinhedos, existem 500 variedades de uvas autóctones, pouco conhecidas do resto do mundo, como as brancas rkatsiteli e mtsvane, e a tinta saperavi.
“Por lá existe também uma sabedoria em elaborar vinhos em ânforas, aqueles potes de terracota chamados de qvevri, que foram os primeiros recipientes utilizados para a fermentação das uvas. Na Geórgia, as ânforas são enterradas como técnica milenar de controlar a temperatura, que teima em subir durante a transformação do açúcar da uva em álcool”, conta Marcos.
Aos curiosos, ele destaca dois vinhos elaborados exatamente com o método ancestral, hoje considerado patrimônio imaterial da humanidade. “São o branco (ou melhor laranja) Qvevri Rkatsiteli Rustaveli 2018, com agradáveis notas de frutas como pêssegos, e muito volume no paladar; e o tinto Qvevri Saperavi Rustaveli 2017, com aromas de frutas vermelhas escuras, muita especiarias e complexidade”, finaliza.
Fonte: metropoles