Você não precisa temer um sorriso manchado de vinho, se seguir algumas regras simples |
Se você já foi a uma degustação de vinhos, viu os efeitos temidos que o vinho tinto pode ter em seus dentes. Mas, além de lhe dar um sorriso roxo temporário, que outro impacto o vinho – vermelho, branco e rosé – tem nos dentes, e o que você pode fazer a respeito disso?
Vinho e o esmalte do dente
“Nossos dentes são como maçãs: eles têm uma camada fina de esmalte, um caroço de dentina espesso e, como as sementes de uma maçã, você tem a polpa do dente”, explica a Dra. Ruchi Sahota, uma dentista estética e familiar baseada na Área da Baía de São Francisco, nos EUA. “É aquele esmalte – aquela parte externa do dente – que é mais afetada pelo vinho.” De acordo com Sahota, embora o esmalte seja o tecido mais duro do corpo, é extremamente suscetível à erosão causada pelos ácidos, um componente primário em todos os vinhos. “Depois de ter essa erosão, o interior do dente é exposto, e isso é mais suscetível que o esmalte duro”, explica ela. “Quanto maior o desgaste e quanto mais se entra no interior do dente, mais suscetível se está às cáries.” Mas Sahota não acha que aqueles que bebem vinho estão necessariamente mais em risco de problemas dentários do que aqueles que não bebem. Em vez disso, há simplesmente considerações especiais que os bebedores de vinho devem ter em mente ao pensar sobre sua saúde bucal em geral. A preocupação mais imediata quando se trata de vinho e dentes, é claro, é a coloração. A boca de vinho pode inspirar algum embaraço a curto prazo, podendo também levar a dentes descoloridos a longo prazo. O vinho tinto tende a receber toda a culpa por isso, porque contém uma grande quantidade de cromógenos. Essa substância química está presente também no café e no chá, que do mesmo modo podem manchar os dentes, assim como as bagas, os cromógenos são substâncias produtoras de pigmentos que se ligam aos dentes e causam manchas. Os taninos, outro componente importante do vinho tinto, ajudam na produção desse efeito. Mas não são apenas cromógenos e taninos – ou apenas o vinho tinto, aliás – que lhe dá um sorriso tingido. O vinho branco compartilha uma quantidade igual (se não maior) da culpa. O mesmo ácido no vinho que pode quebrar o esmalte e tornar os dentes mais suscetíveis à cárie também é em grande parte responsável por promover a coloração. Portanto, embora não contenha o pigmento que os vermelhos produzem, a acidez do vinho branco, tipicamente mais alta do que a vermelha, pode quebrar o esmalte e deixar seus dentes mais vulneráveis a outros alimentos e bebidas mais pigmentados. É por isso que seus dentes podem parecer especialmente manchados quando você passa do vinho branco para o vermelho em uma noite – essencialmente, você escovou os dentes com o vinho branco ácido e depois cobriu com o vermelho altamente pigmentado para manchar. Protegendo Seus Dentes O impacto do vinho nos dentes pode soar um pouco assustador no início, mas os amantes do vinho não devem se preocupar com os dentistas dizendo-lhes para parar de beber por completo. “Se eu fizesse isso, provavelmente perderia a maioria dos meus pacientes!”, brinca John Aylmer, um dentista de Weston, na Flórida. “Se um paciente me disser que bebe muito vinho, isso não levanta grandes preocupações para mim, contanto que ele continue adotando um regime de higiene oral eficaz.” Isso é tão simples quanto praticar os hábitos básicos de higiene dental que você aprendeu quando criança, como escovar os dentes duas vezes ao dia, usar fio dental diariamente, fazer uma dieta balanceada e consultar seu dentista regularmente. “É a mesma coisa com açúcar”, exemplifica Aylmer. “Nós não dizemos aos pacientes para parar de comer açúcar; nós apenas ensinamos a eles como cuidar dos dentes”. Mas os bebedores freqüentes de vinho ainda podem acabar com um caso de dentes de cor magenta depois de beber. Embora o seu instinto seja esfregar os dentes no momento em que você avista essas manchas desagradáveis, os especialistas recomendam que você escove antes de beber (para minimizar a quantidade de placa em que o vinho pode se grudar) e espere até pelo menos 30 minutos depois de beber vinho para escovar novamente. “Depois de beber vinho, sua boca é um ambiente ácido, e você está apenas escovando isso”, explica Aylmer. “Escovar o ácido nos dentes aumenta o risco de erosão.” Sivan Finkel, um dentista estético e instrutor clínico da Faculdade de Odontologia da Universidade de Nova York, sugere uma maneira rápida, fácil e menos prejudicial de lidar com a coloração de curto prazo. “Imediatamente depois de beber vinho [ou entre os copos], se você der um gole de água, muitas dessas manchas sumirão”, garante ele. Este truque não ajuda apenas a eliminar manchas de vinho. Como a água é uma substância neutra – o que significa que ela não é básica nem ácida – ela ajuda a restaurar os níveis normais de pH na boca depois de beber vinho, o que ajuda a afastar as bactérias que amam ácidos e que podem levar a cáries. Beber água também ajuda a estimular o fluxo de saliva, que é fundamental para combater as bactérias nocivas e manter os níveis ideais de pH. É por isso que, entre outras razões, é uma ótima idéia não apenas beber água com seu vinho, mas também encontrar algum alimento para consumir com ele. “O ato de mastigar estimula a saliva”, explica Finkel, citando o queijo como um ótimo acompanhamento, porque não possui pigmentos que mancham os dentes, é não-ácido e, é claro, porque combina especialmente bem com o vinho. Mesmo com essas medidas extras, porém, beber vinho durante um período de tempo longo ainda pode deixar seus dentes um pouco menos perolados do que o desejado. Se for esse o caso, Finkel recomenda consultar seu dentista sobre um regime profissional de clareamento de dentes, e sugere que bebedores freqüentes de vinho também mantenham as bandejas de clareamento em casa para retoques de rotina. O vinho também pode beneficiar sua boca Agora que você tem controle sobre como manter as manchas e a deterioração sob controle, é hora de uma boa notícia: com o passar dos anos, numerosos estudos surgiram sobre os efeitos benéficos de certos componentes do vinho na saúde bucal. Mais recentemente, um estudo publicado no Journal of Agricultural and Food Chemistry descobriu que os antioxidantes do vinho tinto impediam que as bactérias causadoras de placas aderissem ao tecido das gengivas. Em 2014, outro estudo publicado na revista mostrou que o vinho pode ajudar a prevenir a doença periodontal e a perda de dentes. No estudo, o vinho com extrato de uva adicionado foi eficaz no combate a três das cinco cepas bacterianas causadoras da doença da boca. Em 2007, uma pesquisa da Universidade de Pavia, na Itália, mostrou que tanto o vinho branco quanto o tinto podem ajudar a prevenir a proliferação de estreptococos, um tipo de bactéria associada a cavidades, cárie dentária e dores de garganta. Além disso, outro estudo do mesmo ano descobriu que os polifenóis presentes no bagaço de uva podem ajudar a inibir o Streptococcus mutans, o patógeno dentário que produz ácido decompositor e substâncias açucaradas chamadas glucanas, que podem causar placa. Entre esses polifenóis, o resveratrol pode desempenhar um papel fundamental. Um estudo de 2006 publicado no Journal of Periodontology descobriu que o resveratrol reduziu a quantidade de bactérias relacionadas à gengivite em até 60% em testes de laboratório em camundongos, apresentando um desempenho melhor do que as alternativas sintéticas. Embora esses estudos forneçam uma perspectiva esperançosa para os amantes do vinho, ainda não há informações suficientes para fazer recomendações sobre como o vinho pode ser incorporado a uma rotina regular de atendimento odontológico. No entanto, seguindo uma rotina padrão de higiene bucal, e tendo em mente que o que você bebe afeta seus dentes, os bebedores que se importam com a saúde dental não devem ter nada a temer com um copo de vinho. |
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Fonte: Meu vinho.