Não é só o Douro e o Alentejo que têm uma paisagem vinícola. Também na capital há dois hectares de vinhas que darão origem a mais garrafas do já premiado Corvos de Lisboa.
A paisagem entre os dois lados da Avenida Marechal Gomes da Costa é contrastante: enquanto de um lado, sentimos a azáfama da cidade, com milhares de portugueses e turistas a chegar e a deixar diariamente Lisboa de avião; do outro temos um cenário vinícola que parece ter saído do meio rural. Poucos reparam nesta vista que, inacreditavelmente, está a apenas meia hora do centro da capital, mas um corvo — o símbolo da Casa Santos Lima — marca o local, a poucos metros do Aeroporto Humberto Delgado.
É nestes dois hectares que são colhidas as uvas que deram origem, na edição de 2018 do Concurso de Vinhos de Portugal, da Vini Portugal, ao premiado “Corvos de Lisboa”, Arinto 2017. Mas o vinho produzido na Vinha do Aeroporto não é apenas desta casta. Além do Arinto, estão plantadas, nestes terrenos, Tinta Roriz e Touriga Nacional, uvas brancas e pretas.
A NiT foi à vindima na capital, e é como se estivéssemos no Douro. Desde as 8 horas, 20 trabalhadores andam já de tesouras na mão a cortar os cachos para baldes cinzentos, enchendo-os até que um trator os recolha. Começaram pela uva branca — a da casta Arinto. Mas, quando se juntaram também à colheita 20 utentes da Casa de Olivais, uma Residência Sénior, que foram, pela primeira vez vindimar na Vinha do Aeroporto, e o vereador de Espaços Verdes da Câmara de Lisboa, José Sá Fernandes, já só se viam uvas pretas.
Ainda que José Luís Oliveira da Silva, presidente do conselho de administração da Casa Santos Lima, estime uma produção de 20 mil garrafas este ano, vemos alguns bagos murchos. Ana, uma das trabalhadoras que veio da Moldávia há cerca de 10 anos, onde exercia na área da Medicina, explica que a razão pela qual é necessário deixar estes cachos secos por cortar é o calor: “Este ano, as uvas estão mais queimadas do sol”, queixa-se.
No entanto, e independentemente do resultado, 90% do vinho produzido junto ao Aeroporto de Lisboa é exportado para países como a Austrália, Estados Unidos da América, Brasil e Escandinávia.
E mesmo assim, as garrafas de “Corvos de Lisboa” encontram-se cada vez mais em restaurantes lisboetas e nas prateleiras dos supermercados, ao contrário do que acontecia no passado, fruto de alguma falta de conhecimento de que existiam vinhos bons na capital — ainda para mais tão perto do centro —, defende José Luís Oliveira da Silva.
A notoriedade que a cidade ganhou nos últimos anos por causa do turismo, estendeu-se também aos vinhos e isso começa a refletir-se na vendas nacionais.
Segundo o presidente da Casa Santos Lima, o próximo passo é levar os turistas às vinhas do aeroporto: e juntar aos lugares mais típicos e recomendados de visitas, como a Torre de Belém ou o Terreiro do Paço, as vinhas de Lisboa, com visitas guiadas.
Fonte: NiT fm